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Produção social – Uma alternativa aos meios de produção tradicionais

producao social

Você já ouviu o termo produção social? Quando queremos realizar um projeto onde a complexidade está além da capacidade de uma única pessoa, precisamos de um grupo. Existem duas “tradicionais” maneiras de fazer um grupo se responsabilizar por projetos de grande escala.

A primeira forma é através do setor privado, onde as pessoas são pagas para realizar o projeto. A segunda é pelo setor público, onde o projeto é financiado pelo estado.

Há entretanto, um terceiro mecanismo para produção em grupo, fora do eixo de organizações privadas ou do setor público. Estamos falando da produção social, conceito disseminado pelo Clay Shirky, que “trata-se da criação de valor por um grupo e para seus membros sem utilizar o estabelecimento de valor ou supervisão gerencial para coordenar os esforços dos participantes.” (SHIRKY, 2010). É algo como uma organização familiar para promover um piquenique, onde cada um leva um pouco e contribui com o evento.

Acontece que essa produção social não foi incluída dentre as formas “tradicionais” de produção porque as coisas que as pessoas podiam produzir, umas para as outras, usando seu tempo livre, trabalhando sem gerentes ou pressão do mercado, eram limitadas.

O que possibilitou a produção social em larga escala?

Duas coisas aconteceram para acabar com esse cenário. Primeiro, a economia comportamental aboliu a ideia de que os seres humanos sempre determinam valor do trabalho de forma racional, que é a forma como agem os mercados competitivos. Na visão de Ariely, não somos racionais, e sim, “previsivelmente irracionais” (Expressão do livro que Dan Ariely lançou em 2008 sobre economia comportamental), desse modo os mercados acabam sendo um caso especial, funcionando apenas sob condições firmemente controladas. Ainda na visão do autor, o comportamento humano padrão se baseia na sensibilidade mútua dos participantes, mesmo quando há dinheiro em disputa.

O segundo acontecimento foi o surgimento de um meio que ao possibilitar uma coordenação de grupos mais barata e ampla  permitiu superar os antigos limites e abriu espaço à produção social.

Esse é o mecanismo de produção que o professor de direito de Harvard Yochai Benkler chamou de “produção entre iguais baseada em propriedades comuns”, ou seja, trabalho que é coletivamente apropriado ou acessado por seus participantes e criado por pessoas que operam como iguais, sem uma hierarquia gerencial. A internet possibilitou a inclusão de milhões de novos participantes em nosso ambiente de mídia e expandiu drasticamente a escala e o escopo dessa produção.

Enquanto mercados e gerentes públicos foram os mecanismos predominantes para a produção em larga escala nos modelos “tradicionais” agora podemos agregar a produção social como uma forma de assumir essas tarefas, dedicando nosso tempo livre a trabalhos que consideramos interessantes, importantes ou urgentes, utilizando a mídia que provê oportunidades para esse tipo de produção. Essa ampliação de nossa capacidade de criar coisas juntos, de doar nosso tempo livre, nossos talentos particulares a algo útil, é a uma das grandes oportunidades atuais, e que muda o comportamento daqueles que dela tiram proveito.

O projetos de software livre são um exemplo deste cenário, baseiam-se nos mecanismos de Elianor Ostrom sobre gerenciamento compartilhado de recursos publicamente acessíveis, com muita comunicação entre os integrantes, interações e objetivos em comum. O desenvolvimento do Apache, servidor livre e gratuito mais utilizado no mundo, é um exemplo de projeto de código aberto realizado por iniciativa de Crowdsourcing.

Apache-Software-Foundation-logo

O método do Apache de organizar a atividade em grupo é ao mesmo tempo antigo e novo. Como em muitos outros círculos colaborativos ele começou com um grupo central de programadores, uma equipe de meia dúzia de pessoas em São Francisco na Califórnia, que se reuniram em torno de melhorias para o software que eles utilizavam. À medida que a utilidade do software crescia, o grupo de colaboradores que contribuía com seu desenvolvimento também, assim esse grupo se expandiu para dezenas de pessoas, depois para centenas e hoje conta com milhares, uma característica do processo do Crowdsourcing.

Com a criação da rede mundial de computadores e das novas metodologias de gerenciamento de projetos somados ao interesse comum em produzir, surgiu um cenário onde projetos com alto nível de complexidade podem ser realizados pelo que chamamos de “produção social”.

Referências:

SHIRKY, Clay. A Cultura da Participação. 2010.



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