Política

Rede de Escândalos

Com o advento e a difusão cada vez mais generalizada da tecnologia, no âmbito da comunicação, nos encontramos em um patamar em que o próprio processo comunicativo passa a se adaptar às possibilidades proporcionadas pelos diversos dispositivos que permitem interações instantâneas, simultâneas e globais. Em um cenário onde a sociedade moderna está influenciada pela mídia, de tal maneira que, a mesma não pode mais ser considerada como algo separado das instituições culturais e sociais.

Devido a essa densa influência, a mídia passa a ter papel central na política. Alguns autores consideram existir, hoje, uma perda de autonomia no campo político, afirmando que tornaram-se dependentes dos meios de comunicação de massa, para manifestação e cumprimento das suas funções. Porém, sabemos que a mídia não pode atuar separada da cultura e da sociedade, logo, não podemos pensar numa perda de autonomia do campo político e sim, em outra maneira de fazer política na modernidade.

“Nesse patamar de discussão, cabe compreendermos o fato de que o espaço político – onde se forma essa opinião pública – não necessariamente precisa ser um local físico, como na época dos burgueses (salões, cafés ou comunidades comensais), mas também podemos e devemos entendê-lo como um espaço simbólico.” (Esteves, 2011. Revista Matrizes, v9, p 233, 2015).

Talvez não estejamos ainda em um patamar ideal de popularização de acesso e qualificação de uso das mídias digitais, mas é inegável que os fóruns e debates nas redes vêm crescendo de forma exponencial. Nesse sentido, as instituições e governos tornam-se dependentes do trabalho adequado nas mídias para se fazerem visíveis no espaço público.

A maior dificuldade está, não apenas em se fazer visível, mas se fazer prevalecer na transmissão da comunicação. Na comunicação atual, o espaço de discussão é igualmente disputado, por profissionais e pessoas comuns.

Esse processo é fundamental para estabilizar os discursos, o balanço entre – Estado, Governo e Sociedade – deve ser o cerne da comunicação pública, disponibilizando informações verdadeiras e estimulando a participação responsável dessas três esferas. Na concepção ideal, a efetivação desse processo pode assegurar a democracia e a cidadania.

“Comunicação pública coloca a centralidade do processo de comunicação no cidadão, não apenas por meio da garantia do direito à informação e à expressão, mas também do diálogo, do respeito às suas características e necessidades, do estímulo à participação ativa, racional e corresponsável. Portanto, é um bem e um direito de natureza coletiva, envolvendo tudo o que diga respeito a aparato estatal, ações governamentais, partidos políticos, movimentos sociais, empresas públicas, terceiro setor e, até mesmo, em certas circunstâncias, às empresas privadas.” (Duarte, 2007:61).

A Veja lançou em 2011 o site Rede de Escândalos: A memória viva da corrupção, com objetivo de registrar todas as informações captadas pela revista sobre os escândalos de corrupção no Brasil desde 1988. É uma forma de constituir uma memória social sobre a corrupção, de forma que a sociedade tenha acesso e conhecimento organizado por infográficos, cronologia e personagens.

veja

No cenário atual é imprescindível que se reflita sobre a discussão de temas públicos numa sociedade que está envolvida pela lógica da mídia. Se a própria comunicação de órgãos públicos, assume estratégias de midiatização, as redes de comunicação orgânicas que se formam pela sociedade devem privilegiar a conscientização do cidadão em relação à importância da sua participação, não só como eleitor, mas também, como vigilante ativo daqueles que estão no poder.

“Em todos os padrões, quando o fundo muda, a figura também é alterada pela nova interface” (McLuhan, McLuhan e Staines, 2003).



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