Nos últimos dias, usuários do Facebook e do Instagram passaram a publicar posts com uma foto de 2009 ao lado de uma foto do perfil atual. Na legenda, as pessoas incluem a hashtag #10YearChallenge (desafio dos 10 anos).
Uma repórter da revista Wired chamou a atenção para a possibilidade de o desafio ser usado para treinar algoritmos de reconhecimento facial do Facebook para identificar usuários em fotos.
“Eu há 10 anos: provavelmente brincaria com o meme da idade da foto (…) Eu agora: pondere como todos esses dados poderiam ser extraídos para treinar algoritmos de reconhecimento facial no reconhecimento e na progressão da idade”, escreveu Kate O’Neill em sua conta no Twitter.” (Folha de São Paulo)
Apesar de, em maio de 2018 na conferência de desenvolvedores do Facebook, a empresa ter declarado que as fotos e as hashtags do Instagram são usadas pela empresa para alimentar e aperfeiçoar o sistema de Inteligência artificial, neste caso, em nota, disse que o meme foi criado pelos usuários e que viralizou espontaneamente. Lembrou sobre a existência da opção de desativar o reconhecimento facial e ressaltou “Não ganhamos nada com esse meme (além de nos lembrar das tendências questionáveis de moda de 2009)”.
Alguns analistas veem risco à privacidade com a tecnologia de reconhecimento facial. O governo da China, que exporta essa tecnologia com um alto grau de precisão, pagou uma viagem para que parlamentares do PSL, conheçam a tecnologia implementada no país deles. Alguns deputados e senadores, também do PSL, pretendem apresentar, já no início do ano legislativo, um projeto de lei que obriga a implementação de câmeras inteligentes em locais públicos para fins de segurança.
No sistema chinês, empresas como a Dahua oferecem ao Partido Comunista um software de inteligência artificial capaz de identificar rostos e relacioná-los com outras informações como sexo, idade e números identificadores como quantas vezes uma pessoa passa por determinado local e se tem um comportamento considerado suspeito pelas autoridades e com quem está acompanhada, por exemplo. Ao reconhecer essas características em tempo real, transmite as imagens e informações em painéis.
Se houver entusiasmo por parte do Congresso e do governo para a adoção de um sistema de vigilância semelhante, especialistas alertam para a necessidade de requisitos básicos de privacidade e segurança para os cidadãos. Apesar de o Brasil ter aprovado a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, a partir de agosto de 2002, o artigo 4º exclui de sua aplicação o tratamento de dados para fins de segurança pública.
O aumento de segurança pública é um propósito positivo, mas é preciso garantir o equilíbrio e que as informações capturadas não sofram desvio de propósito, alerta Patricia Peck, advogada e especialista em direito digital. “Quem vai vigiar o vigia?”, questiona. (Folha de São Paulo)
[Fontes]
Onda #10YearChallenge treina reconhecimento facial do Facebook, diz revista.
Analistas veem risco à privacidade com tecnologia de reconhecimento facial.