Jornalismo

O que o Facebook tem a ver com a eleição de Donald Trump?

o que o facebook tem a ver com a vitoria de Trump.

A grande mídia mundial, assim como as pesquisas de intenções de voto, deixaram passar a verdadeira história. Provavelmente, a sua “time line” do Facebook também.

Se você ficou chocado com a vitória do republicano Donald Trump, quem sabe seja hora de começar a rever suas fontes de informação. Mas fique tranquilo, não é só você que está nessa situação.

A vitória de um candidato acusado de ser descontrolado, preconceituoso, separatista, racista, que proferiu uma lista enorme de declarações polêmicas, era de certa forma improvável para jornalistas do mundo inteiro, que preferiram não levar Trump muito a sério.

“A mídia está sempre interpretando Trump de forma literal. Ela nunca o leva a sério, mas sempre literalmente”[…] Mas um monte de eleitores fizeram exatamente o oposto: Levam Trump a sério, mas não literalmente. (Margaret Sullivan)

A jornalista americana Margaret Sullivan reflete que os jornalistas, por conta da alta qualificação, formação acadêmica, estilo de vida, acostumados com a visão cultural e de mundo das grandes capitais, deixaram passar o verdadeiro tamanho da multidão entusiasta que clamava por Trump. “Eles não puderam acreditar que a América que eles conheciam poderia abraçar alguém como Trump”.

A vitória de Trump aponta para um problema atual da comunicação social. As plataformas digitais estão recriando a forma como as pessoas se informam e tomam suas decisões. Tanto no Brasil, como nos Estados Unidos, a grande mídia está com dificuldades para ouvir e compreender os grupos minoritários.

“A imprensa falha em compreender e iluminar esses grupos para conhecimento de todos e é desta maneira que The New York Times, The Guardian e Washington Post conseguem falhar tão fortemente em prever quem será o próximo presidente dos EUA.” (Stefanie Silveira)

Enquanto os grandes veículos de comunicação tentam entender o que está acontecendo, Google e Facebook se transformam nos maiores canais de comunicação do planeta,  com um agravante. Ambas empresas não são e não assumem o papel como veículos influenciadores. O objetivo deles é lucrar com clique e mais cliques. A curadoria de conteúdo, dentro dessas plataformas,  é feita por robôs que priorizam o potencial de visibilidade da informação, e não checam a veracidade, a relevância ou os impactos da notícia em si.

NYT Abriu Paywall antes das eleicoes.
Apelo do New York Times nos dias que antecederam as eleições. O jornal abriu mão do conteúdo pago para que as pessoas pudessem se informar e tomar a melhor decisão:

Houve época em que o Facebook tinha jornalistas controlando quais tipos de notícias seriam consideradas “trend topics”, ou seja, relevantes. Após acusações e críticas por parte de veículos de comunicações, o Facebook resolveu deixar esse trabalho por conta de um algoritmo sem o uso de intervenção humana.  Se um boato ganha força, ele será compartilhado cada vez mais, atingindo dimensões gigantescas.

Essa questão não tem resposta simples: É melhor recebermos informações filtradas por seres humanos, que podem ter suas intenções pessoais em jogo, ou por robôs que não tem limites éticos e responsabilidade sobre suas ações?

Concluindo, sua “time line” do Facebook poderia apontar para uma vitória da esquerda ou da direita nas eleições Norte Americanas ou Brasileiras. As atualizações personalizadas de acordo com nossos gostos e desejos podem nos colocar em um tipo de “bolha”, como diz Eli Pariser. Sem uma visão oposta, um contraponto, corremos o risco de enfraquecer nossa concepção da realidade.

Termino aqui com dois comentários de amigos meus da USP, cujas palavras contribuem bastante para nossa reflexão sobre os caminhos da comunicação digital.

“As pessoas sempre quiseram ler aquilo que não desafiasse suas visões de mundo. Vide as narrativas visíveis na imprensa pré-internet. As bolhas de informação sempre existiram. Só que o Facebook e Google fizeram a distribuição do conteúdo de terceiros um negócio rentável, sem se responsabilizar eticamente. E é aí que mora o problema.”(Thais Lima)

“Talvez, como exercício para tentar entender o resultado desastroso das eleições americanas, devamos passar a olhar para além do nosso feed de notícias do Facebook, que geralmente nos reconforta com ideias sensatas e – em igual medida – nos aliena para questões que, por mais absurdas que pareçam, não podem ser ignoradas. Foi o que rolou com a mídia Norte Americana. Que sirva de lição para não repetirmos o mesmo erro em 2018.” (Raffael Farias)



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