Redes Sociais

A internet e a “morte” do Papai Noel

(Foto do https://www.flickr.com/photos/43676327@N00/)

Em 2008 na cidade de Novara na Itália, um pároco disse para crianças, durante a missa, que “não se deve deixar que o Papai Noel roube o menino Jesus”. Ele falou isso com objetivo de orientar as crianças sobre a diferença entre personagens do mundo da fantasia como o Papai Noel, Cinderela e Branca de Neve em relação à Jesus e as histórias da bíblia.

Essa revelação deixou alguns pais descontentes com o padre que retirou de seus filhos a fantasia sobre o Natal. Uma das mães comentou o ocorrido com um jornalista local que, para chamar atenção, publicou em jornal da região  a notícia despretensiosa intitulada “Mataram o Papai Noel”. Por conta do apelo curioso da notícia a mesma foi retransmitida por uma agência de notícias italiana e depois pela BBC de Roma.

Com isso, o descontentamento de uma mãe, com o pároco, se transformou em milhares de pais e mães revoltados protestando nas redes. Em alguns dias o número de páginas na internet que citavam o padre de Novara passaram para mais de 10 mil em 20 línguas diferentes, entre elas, islandês, estoniano, lituano, húngaro, albanês, chinês, vietnamita, indonésio, norueguês, sueco, polonês, russo, romeno, eslovaco e outras. A notícia se espalhou em sites do mundo inteiro, envolvendo mais de 40 países desde as Ilhas Fiji, Nova Zelândia, Austrália, Timo Leste, Indonésia, Vietnã, China, até Azerbaijão e Cazaquistão, passando pela África do Sul, Angola, Brasil, Estados Unidos, Canadá e em uma boa parte da Europa. (MAGGIOLINI, Piercarlo. 2014)

Uma enxurrada de pessoas passou a comentar a notícia com opiniões diversas, desde católicos que acusavam o padre de pedófilo até o extremo dos neopagãos que optaram pela defesa do religioso. 

Essa história ilustra o grande desafio que vivemos hoje. As notícias vão de um site para outro, muitas vezes, sem a citação da fonte original, com informações fora do contexto inicial, pinceladas, editadas e remodeladas para se tornarem interessantes e captarem visualizações. A guerra pelos “views” (visualizações) faz com que a lenda, a mentira, a notícia aumentada ou distorcida seja muito mais interessante para os jornalistas ou para o disseminador da história ultrapassando, dessa forma, a importância  do que é a realidade.

A mentira espalhada como verdade pode ganhar proporções gigantescas, a ponto de torná-la a percepção da realidade. Esse padre muito provavelmente sempre será conhecido como o padre que “matou o Papai Noel”, fama que lhe gerará insultos, protestos e escárnios por toda a vida. 

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Foto do https://www.flickr.com/photos/silandi/

Precisamos todos nos mobilizar no sentido de criarmos uma consciência da população em relação à mídia e suas responsabilidades. A globalização econômica deu um primeiro passo no caminho de ampliar as fronteiras entre as sociedades, a tecnologia por sua vez, proporcionou uma quebra extrema de barreiras geográficas que ocasionou no encurtamento do planeta. Vivemos hoje em uma aldeia global, cabe a cada um de nós, a escolha de transformá-la em um ambiente hostil, com disputas e acusações ou em um lugar onde exista respeito, bom senso e solidariedade.

“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” (Mahatma Gandhi)



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