Big Data

Quem fiscaliza os algoritmos?

quem fiscaliza o algoritmo

Uma das primeiras funcionárias da Netflix e presença constante nas palestras no Vale do Silício, a americana Kate O’Neill, defende que precisamos responsabilizar as plataformas, como Facebook, Twitter, Google e outras redes sociais, que definem através de seus algoritmos o conteúdo mostrado para a população e, em grande parte das vezes, suas escolhas dificultam o surgimento de novos empreendedores.

Com essa afirmação sugere a existência de alguma forma de regulação para supervisionar o modo como os algoritmos decidem o que aparece para os usuários e a responsabilidade dos efeitos que esses resultados trazem para o mundo real.

Além disso, O’Neill faz um alerta para que as pessoas tomem mais cuidado com o que as pessoas compartilham nas suas redes sociais, para que seus dados não sejam usados para fins políticos.

“Sempre que alguém chamar para participar de um meme ou de um jogo, o sinal vermelho deve acender. Foi esse o cenário que a Cambridge Analytica usou para conseguir os dados de 70 milhões de eleitores – americanos.” – disse ela. (Folha)

Em seu terceiro livro, “Tech Humanist” (2018) escreve um manifesto no qual defende que o avanço tecnológico precisa ser acompanhado de preocupação ética para o ser humano, que deve estar no centro do foco e seus valores respeitados. Afirma que os avanços tecnológicos vêm de uma construção coletiva que deve ter como objetivo ajudar a humanidade.

Na sua opinião o avanço da tecnologia permite às empresas ampliarem sua atuação, acarretando em uma obrigação ética crescente de alinhar os negócios com as consequências que eles geram para o ser humano, de modo a garantir que não exista uma diferença grande demais entre quem tem acesso e quem não tem. E acredita que estamos muito atrasados em relação a isso.

A diferença é que, em uma era com inteligência artificial e automação, é possível conseguir cada vez mais dinheiro e mais eficiência com cada vez menos pessoas envolvidas no processo. Os empresários vão ter mais lucro, mas os seres humanos terão menos empregos, então vão ganhar menos da riqueza gerada.

É um cenário em que ainda há oportunidades para empreendedorismo e inovação, mas são cada vez menores e mais desafiadoras.

Precisamos operar com uma perspectiva que chama de propósito estratégico. Não é um propósito humanitário ou de caridade e sim de um entendimento do que a empresa faz e do que quer fazer ao ganhar escala, de modo que possa dialogar com as consequências humanas do negócio. É como um hospital que entende que seu maior objetivo não é lucrar de qualquer maneira, e sim o bem-estar de seus pacientes.

E na esfera política, o trabalho a ser feito é para garantir a criação de proteções e regulações necessárias às pessoas, assim como garantir que os líderes políticos tenham as melhores intenções em relação a seus eleitores.

A tecnologia não é necessariamente a primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa em política, mas em qualquer lugar do mundo temos visto um aumento de interesses particulares tentando criar campanhas ou usando o Facebook e outros canais para tentar influenciar o resultado de uma eleição.

Isso com certeza está acontecendo e é preciso responsabilizar os políticos por suas ações, além das plataformas como Facebook, Twitter, Google e outras redes sociais que definem o conteúdo que é mostrado para a população.

É preciso criar um equilíbrio, sempre é necessário algum grau de regulação, alguma forma de supervisão da sociedade ou do governo.

É possível que a solução seja a criação de uma entidade para acompanhar o funcionamento dos algoritmos, entender qual o tipo de influência que eles geram e analisar quais fatores são levados em conta na hora de decidir qual conteúdo será distribuído e qual não será. Isso é uma discussão que está começando a crescer ao redor do mundo.

Leia a entrevista completa da Kate O’Neill, na íntegra, na Folha.



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