Enquanto as pessoas se acostumam com as ferramentas e as empresas investem em desenvolver aplicativos para acompanhamento e monitoramento de palavras, forma-se uma ampla participação do público em tudo que envolve, antes, durante e depois do carnaval nas redes sociais. A interação das pessoas com os grandes eventos, através da internet, já se consolida como comportamento usual das pessoas.
ANTES
O Scup fez uma pesquisa entre os dias 15/01 a 07/02 onde algumas tendências foram reveladas. As empresas “antenadas” usufruíram, dessas informações, para trabalharem sua comunicação e marcarem presença no carnaval.
Dentro desse estudo, a maior parcela das menções coletadas foram dos cariocas, com 31,6% dos comentários nas redes, seguido por São Paulo com 19,1%.
Os blocos de rua, ainda fazem grande sucesso, onde 58% das pessoas demonstraram interesse em participar desse tipo de atividade, seguido pelos bailes com 13%.
A cerveja apareceu como a bebida mais comentada com 64,12%, seguida pelos refrigerantes 11,53% e Vodka com 9,76%.
Entre as marcas de cerveja a Skol liderou a lista de intenções com 64%, seguido de Brahma 15% e Nova Skin 11%. Já os refrigerantes, a Coca Cola com 81%, Guaraná Antártica com 7% e Kuat com 5%.
Os destinos mais procurados para viagens foram, Rio de Janeiro 24%, São Paulo 13% e Salvador com 11%.
Entre os que disseram gostar ou não gostar do Carnaval, a maioria das menções foram, para o lado positivo, com 61% das pessoas, declarando que gostam contra 39% que não gostam da folia.
Download da pesquisa completa.
As manifestações nas redes sociais aumentam ano após ano. Segundo dados divulgados, neste ano, foram 295 milhões de interações, no Facebook. Esse número atinge o dobro do ano passado, quando 125 milhões interagiram.
DURANTE
Mesmo enquanto rolavam os desfiles e a votação, as torcidas das escolas de samba degladiavam-se nas redes sociais, uma apontando as falhas das outras. Com o tempo, teremos, no Carnaval, algo parecido como acontece no futebol em que, milhares de torcedores, agem como técnicos e/ou árbitros.
DEPOIS
Seria uma edição de carnaval comum, com uma escola de samba campeã e o povo, nas ruas, indiferente ao resultado, entregando-se à folia. Porém, a vitória de uma escola de samba, com patrocínio advindo de um país que vive uma ditadura militar, criou manifestações de repúdio, nas redes sociais, ocasionando manifestações e questionamentos, sobre o significado da festa e a realidade do país.
Na matéria do jornal O Globo a antropóloga Alba Zaluar aponta alguns questionamentos técnicos do desfile da campeã Beija Flor:
“Eram fantasias muito coloridas, muito bonitas, mas do ponto de vista estético era uma África estereotipada. E, ainda por cima, começaram o desfile com uma comissão de frente que é a imagem do homem de Neandertal, embora ele nunca tenha pisado na África. O continente é berço do Homo Sapiens. É uma visão equivocada, não sei se mais alguém reparou nisso. O enredo deveria, de alguma maneira, ter sido analisado por professores de história. Estou revoltada.”
Na mesma matéria, a Professora de letras da UFRJ, Beatriz Rezende, complementa:
“É vergonhoso saudar uma ditadura. Deveria haver ética por parte da escola, esse patrocínio não poderia ser aceito. É um espetáculo que entra na casa de todos. O resultado é uma lástima.”
Um estudo realizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP) mostrou que o resultado do Carnaval 2015 teve forte repercussão nas redes sociais, com 612.300 menções de palavras relacionadas ao assunto, sendo que 72.300 vieram do exterior, principalmente de cidades como Londres, Nova York, Miami e Toronto. Entre as expressões mais citadas revelam uma reação negativa à vitória da Beija Flor. Os termos mais populares são “ditador”, “ditadura” e “controvérsia”.
Esse questionamento ganha força nesse momento em que vive o Brasil, onde questões éticas são amplamente discutidas, nas redes, por contas das eleições. Essa polêmica no carnaval acende novamente a chama da questão moral e ética dos grandes eventos, como Copa do Mundo, Olimpíadas e provavelmente terá impacto nos futuros Carnavais.
Luis Fernando Vianna, colunista da Folha dispara: “Ainda assim, quando recordarmos o Carnaval 2015, será aquele em que venceu a Beija-Flor com dinheiro de uma ditadura africana.” (Folha de São Paulo)
O jornal inglês (The Gardian) também falou sobre um estudo da ONG norte-americana Human Right Watch. Segundo a pesquisa da organização, a Guiné Equatorial é um dos países mais desiguais do mundo, assolado por corrupção, pobreza e repressão. “Os vastos lucros do petróleo financiam vidas luxuosas para a pequena elite envolvendo o presidente, enquanto a maior parte da população continua vivendo na pobreza”, afirma o estudo.
Nos posts, acima, as brincadeiras com um fundo (triste) de verdade que rolam soltas nas redes sociais.
Brincando ou não, o questionamento e a reflexão está no ar. Nunca se discutiu tanto sobre ética e moral quanto hoje em dia. Esperamos que essa reflexão impacte nas atitudes de cada um.