Redes Sociais

A invasão dos publicitários

Com o surgimento dos “Mass Media” misturado com o modelo capitalista, voltado ao consumo, criamos um cenário onde tudo se vende e tudo se compra. Adicione à isso um ambiente tecnológico frenético, onde tudo virou informação, temos então, um mundo repleto de vendedores/publicitários/consumidores.

Antes de comprar o “produto em si”, compramos a “informação sobre o produto”. Consumimos as vantagens apresentadas pela empresa vendedora, as desvantagens apontadas pelos concorrentes, as falhas nos serviços de suporte divulgadas pelos consumidores insatisfeitos e a realização que o produto proporcionou aos compradores satisfeitos.

As pessoas, com seu poder de voz conquistado junto às redes sociais, se transformam em publicitários dos seus produtos preferidos, defendem e vendem suas  opções de consumo, e dessa forma, ajudam a moldar um estilo, um perfil e um comportamento. Tornam-se, diretamente, vendedores da sua própria personalidade, são seus publicitários pessoais e utilizam “emprestado” as marcas admiradas e famosas para se auto promoverem. Assim, objeto e pessoa, viram produto. Todo produto se transforma em imagem e texto, às vezes em vídeo mas, sempre em informação.

Inspira a poesia:

Música vira produto,
que vira texto,
que vira imagem,
que vira post,
que vira consumo,
que vira personalidade,
que vira publicidade, que vira você!

fotos_1027_bebe-propaganda

Com a narração do Arnaldo Antunes, poderia até virar um belo comercial. Ao estudarmos as estéticas midiáticas e narrativas do consumo, entendemos um pouco mais sobre essa sociedade consumidora:

A modernidade consiste em assumir a nova cultura visual que cria a sociedade tecnificada. O predomínio da imagem tecnológica questiona o mesmo conceito de arte que tem a sociedade como produto cultural mitificado. Situa-o em sua dimensão de imagem e de comunicação. A importância da cultura visual na arte contemporânea não só se manifesta na sua perspectiva estética mas, no potencial extraordinário de geração de formas de representação, nos condicionamentos nas formas de ver, na vida social das imagens. Finalmente, a publicidade invade tudo, tornando-se a protagonista das mídias sociais. Em última instância, já nos disse Marshall MacLuhan: ”advertising is the greatest art form of the twentieh century”, máxima que chega até nossos dias. (ROCHA, Rose de Melo e CASAQUI,Vander (Orgs.). Estéticas midiáticas e narrativas do consumo. Porto Alegre: Sulina,2012. P 96).

Caminhamos para um mundo ilusório e cibernético que mais se parece com a Matrix, como ilustra o Luli Radfahrer em seu artigo:

“[…] um número crescente de cientistas acredita que o livre-arbítrio é uma ilusão. Há quem sugira que a informação é componente fundamental do universo, mais essencial do que a Matéria ou Energia. Do código genético e sinapses às órbitas dos elétrons, cada estado e cada mudança poderia se representar por informação. O Universo conhecido poderia ser descrito em informação, portanto seria equivalente a um computador monumental.” (Luli Radfahrer em sua coluna da Folha)

Temos portanto milhares de publicitários profissionais amadores, cada qual com seu veículo de comunicação particular, com audiência própria preparada para receber todo tipo de material ilustrativo vendedor ao disparo de um clique. Mas, será que sabemos o que vender?

Viver é uma arte, porque a arte deve ter essência e viver sem ter essência não é vida. Transformaremos nossa personalidade em produto, ou vamos pensar com cautela sobre qual informação “vender” de nós mesmos?

Já que a arte e a publicidade andam de mãos dadas desde o século XIX, onde as agências inspiravam-se em obras de artistas para utilizar como peças publicitárias em cartazes e jornais, podemos terminar esse artigo com a genial frase:

“Artista é aquele a quem cabe, a partir de numerosas coisas, fazer delas uma só, e, a partir da menor parte de uma coisa só, fazer um mundo” (Todorov, 2011, p 110).



Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

 

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.